Trend Override Newsletter #60
A Amazon não aguenta mais perder dinheiro com Alexa. A humanização o ChatGPT e o que está por trás da do investimento milionário da ByteDance. Os testes iniciais do Apple Intelligence e muito mais.
Resumo do que estará por aqui hoje:
🤚Alexa, please stop! O maior assistente do mundo não para de perder dinheiro.
👋Hello world: A humanização do ChatGPT.
⚠️A revanche do Google: Gemini assume a ponta dos chatbots.
🧠Apple Intelligence is out!
Tiktok 🤝 Microsoft: O que está por trás do cheque mensal da ByteDance.
🫰Temporada de resultados: Alguns comentários sobre os números dessa semana.
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🤚Alexa, please stop!
Alexa. Google assistant. Siri. Hoje muitas casas já contam com sua assistente digital favorita. Úteis, mas longe de serem indispensáveis, mesmo agregando outras funcionalidades como caixa de som, câmera e grandes displays, os aparelhos destinados para isso ainda encontram alguma resistência para penetrar nos lares mundo afora.
E a primeira que veio a público mostrar um grande incomodo com essa situação foi a Amazon. Em uma semana importante, em que a empresa reportou seu resultado e viu suas ações caírem substancialmente na bolsa americana, o CEO da empresa Andy Jassy se mostrou preocupado com o futuro de sua assistente.
“Nos preocupamos por termos contratado mais de dez mil pessoas para construir um alarme inteligente”
Na verdade, foram mais de quinze mil engenheiros contratados, dezenas de bilhões de dólares investidos e a Alexa continua reportando prejuízos. Todo acerto do projeto do Kindle parece que está distante de ser uma realidade para a Alexa. Mesmo crescendo em vendas, a empresa não consegue monetizar em nada sua assistente.
Mas a empresa, a priori, sabia o que estava fazendo. Isso se deve a uma mudança na diretriz da empresa, e na forma que analisa seus investimentos.
Jeff Bezos comandou a Amazon durante 27 anos. Durante grande parte desse período, o principal produto da Amazon, as vendas online, foram deficitárias. Ele sempre soube o que estava fazendo. Na linha de hardwares (ou equipamentos), Bezos sempre metrificou o sucesso utilizando o DSI (Downstream Impact). Isso quer dizer que, mesmo que a empresa estivesse perdendo dinheiro com alguns aparelhos, se os clientes estivesse gastando mais dentro da Amazon depois de comprar algum equipamento deles, o investimento estava valendo a pena. Por isso, mesmo não dando lucro, ele considerava a estratégia como vencedora.
Agora, com Andy Jassy na liderança da empresa, as coisas mudaram. No nova métrica de sucesso será o impacto de cada produto na receita da empresa. Esse diagrama ilustra um pouco de como a Amazon ganha dinheiro:
A aposta da empresa, inicialmente, será um plano de assinatura. Com mais de 500 milhões de unidades vendidas, os usuários da Alexa agora terão um plano mensal pago, com novas funcionalidade e, obviamente, recursos de inteligência artificial. Tenho muita dificuldade em ver um plano de assinatura salvar um produto, em muitos casos eles mais espantam clientes e abrem espaço para outros serviços. Se, de graça, a Alexa já não conseguiu se tornar um serviço essencial dentro de uma casa, será que agora, nesse novo modelo, irá ganhar seu lugar ao sol?
Além da Alexa, outro produto que tem assombrado a vida da turma lá é a Twitch. Adquirida por 1 bilhão de dólares em 2014, a plataforma ainda luta para sobreviver. Alvo de críticas duríssimas de criadores de conteúdo mundo afora, ela segue longe de ser a prioridade dos produtores e também consumidores de conteúdo online. No Brasil, talvez se não fosse pelo Casimiro, acredito que grande parte da população nem iria saber o que é isso!
👋Hello world
Semana passada falei um pouco sobre a entrada da OpenAI no mundo de buscadores. A industria de lançamentos de produtos, em especial relacionados a IA, estão seguindo cada vez mais a narrativa de mostrar antes de estar pronto, mesmo que não de em lugar nenhum e, algumas vezes, precisando até mentir para isso (como foi o caso do primeiro vídeo de lançamento do Gemini, da Google, que era um belíssimo fake)!
Eu ainda acredito que, no caso particular da OpenAI, a empresa esteja tentando também ganhar tempo, pois o lançamento do GPT-5 ainda parece estar distante.
Pensando nisso, mais um protótipo foi lançado essa semana, o Advanced Voice Mode. O recurso permite que você tenha uma conversa em tempo real com o ChatGPT. Muito mais que isso, ele realmente simula o comportamento humano, incluindo necessidades de pausa, respiração e etc.
Aqui está mais um exemplo do que eu falei na matéria anterior, com tecnologias como essa surgindo, o que a Alexa vai oferecer de diferente, ainda mais sendo um recurso pago?
Esse é um dos produtos que eu fiquei mais animado de ver. Na minha visão, isso oferece um novo leque de aplicações e funcionalidades para usuários e empresas. Isso, inclusive, abre espaço para a OpenAI entrar em industrias como entretenimento, transmissões, dentre outras.
Por outro lado, levanta preocupações, principalmente sobre direitos autorais, tanto nos dados usados para treinamento, quanto nos dados que o sistema poderá produzir.
Alguns exemplos que os usuários testaram na internet:
⚠️A revanche do Google
Semana passada falei um pouco de todos os canhões que estão apontados para o Google. Mas, nem tudo está perdido.
Como relembrei na coluna anterior, a desconfiança que o mercado ficou com as novas tecnologias do Google, por conta deles terem forjado a primeira demonstração do Gemini, foi enorme. Agora, finalmente, vencida a desconfiança inicial, eles estão entrando na disputa.
Talvez eles estivesse só guardando o melhor para o final, mas a verdade é que o Gemini 1.5 Pro "experimental 0801", está atualmente liderando os rankings da LMSYS como o melhor chatbot disponível.
Desde o anúncio, as pessoas no X têm lançado suas perguntas mais difíceis para ele. Tem se saído bem, mas os resultados iniciais parecem inconsistentes. Afinal, é um experimento.
Sete grandes modelos foram lançados nos últimos três meses. Cada grande player tem um modelo de ponta de algum tipo, e cada um é competitivo à sua maneira.
Na semana passada, era o Meta Llama 3.1 liderando as paradas (e estourando champagne). Esta semana, o Google basicamente disse "segura minha cerveja" e disparou para o topo.
Agora, parece que se especializar em certas habilidades específicas (codificação, matemática, desempenho multilíngue, etc.) é de onde virá a maior parte dos ganhos de desempenho nos próximos lançamentos.
O nicho do Gemini? Matemática. Está classificado em 1º lugar na resolução de problemas matemáticos, entre os 1-2 primeiros em seguir instruções, e entre os 5 primeiros em lidar com tarefas complexas em inglês e codificação.
Embora às vezes pareça o sistema mais inteligente que existe; outras vezes, confunde um hexágono com um heptágono. Mas quem não confunde isso de vez em quando?
🧠Apple Intelligence is out!
Saiu o primeiro "preview" do Apple Intelligence no iOS 18.1 para desenvolvedores. O que está disponível?
Sugestões de escrita, como revisão, reescrita e ajustes de tom (por exemplo, "amigável", "profissional" ou "casual").
Resumos de IA para e-mail, mensagens de texto e correio de voz.
Busca aprimorada de fotos e criação de filmes.
Siri melhorada e brilhante com conselhos de solução de problemas e melhor audição.
Possibilidade de gravar ligações
O que ainda não está pronto:
Geração de imagens e emojis ("genmojis", como a Apple os chama).
Remoção de objetos de fotos.
Integração com ChatGPT.
Capacidade da Siri de usar informações pessoais e agir dentro de aplicativos.
Esses dois últimos recursos são cruciais - Permitir que uma IA execute ações dentro dos aplicativos do iPhone é o desbloqueio que poderia mudar completamente a forma como interagimos com nossos dispositivos. A Siri, que desde o seu lançamento é uma das funcionalidades mais criticadas da Apple, pode finalmente ganhar alguma utilidade. Meu catch continua sendo que essa integração com o ChatGPT é complicada, vai precisar ser feita abrindo o sistema para uma aplicação externa, além da dificuldade em garantir que seus dados não vão ser usados para treinar os modelos. Mas, obviamente, isso pode mudar a história.
Para mim o que corrobora essa dificuldade são os prazos. Quando divulgado, falei bastante aqui sobre o prazo apertado que eles colocaram para lançar os produtos para os clientes finais. Além de já terem atrasado essa versão para os desenvolvedores, a versão para o público já teve algumas revisões de prazo. A nova estimativa é que chegue ao iOS 18.1, em outubro deste ano.
Uma curiodade interessante: A Apple treinou esses novos modelos de IA nos chips TPU do Google - não nos da Nvidia.
Tiktok 🤝 Microsoft
TikTok está gastando $20 milhões por mês com a OpenAI via Microsoft
A empresa de mídia social é supostamente responsável por 25% da receita de IA da Microsoft
O TikTok tem sido um grande gastador para a Microsoft, mas não nos próprios modelos de IA da Microsoft.
Estima-se que os $20 milhões gastos mensalmente, desde março, seja para comprar modelos da OpenAI através da Microsoft. As grandes compras do TikTok constituem cerca de 25% da receita de IA da Microsoft.
Mas isso representa um risco para a Microsoft. A ByteDance, dona do TikTok, está supostamente tentando construir seus próprios modelos de IA. O uso exacerbado das tecnologias da OpenAI parecem ser, inclusive, para isso.
Esses serão os novos dilemas da era da IA.
A Nvidia, por exemplo, também enfrenta riscos semelhantes aos da Microsoft. Embora eles estejam costurando parcerias muito fortes com as big techs, sabemos que essa barreira pode ser quebrada em algum momento.
Esperançosamente para a Microsoft, a ByteDance levará seu tempo desenvolvendo seus modelos de IA. As vendas de IA Cloud da Microsoft não atingiram as altas expectativas dos analistas. As ações da Microsoft caíram 6% após o fechamento na quarta-feira.
Outros grandes clientes de renome que supostamente compram modelos da OpenAI através da Microsoft são: AT&T, Coca-Cola, Fidelity, Volvo e Walmart.
🫰Temporada de resultados
A temporada de resultados segue a todo vapor nos Estados Unidos.
Além do que falei ao longo da edição, algumas coisas chamaram a atenção.
McDonald’s
O McDonald's enfrentou um revés significativo no segundo trimestre de 2024, registrando sua primeira queda nas vendas globais desde 2020. Com uma redução de 1% nas vendas, a empresa viu seu lucro líquido diminuir em 12%.
Em resposta, a empresa adotou uma estratégia mais agressiva de preços, introduzindo promoções como refeições por $5, numa tentativa de atrair mais clientes às suas lojas.
Curiosamente, apesar dos resultados abaixo do esperado, os investidores parecem encarar este período como uma fase transitória.
Para navegar por essas águas turbulentas, a empresa parece estar apostando em uma abordagem mais personalizada, adaptando-se às preferências regionais e implementando estratégias de preço mais eficazes.
Meta
In Zuck we trust!
Pelo menos uma vez por mês venho aqui me surpreender com o Zuck. E esse trimestre, ele fez de novo! E não foi pelo novo visual Gen-Z que ele adotou!
A empresa apresentou resultados trimestrais impressionantes e reforçou seu compromisso com a inteligência artificial generativa. Com uma base de usuários ativos diários de 3,27 bilhões, a Meta agora alcança 40% da população mundial, que utiliza pelo menos um de seus produtos diariamente.
O destaque ficou por conta do crescimento de 22% nas receitas publicitárias, impulsionado pelo sucesso do assistente virtual Meta IA. Além disso, o Threads, já atingiu a marca de 200 milhões de usuários mensais.
O metaverso continua sendo um ponto de preocupação, consumindo recursos sem apresentar perspectivas claras de retorno no curto prazo.
Spotify & Netflix
O Netflix adicionou impressionantes 8 milhões de novos assinantes no último trimestre, o maior crescimento para um segundo trimestre desde o boom de 2020. Produções próprias como "Bebê Rena" e "Bridgerton", impulsionaram a empresa a chegar aos 278 milhões de assinantes. A receita trimestral de $9,6 bilhões surpreendeu e foi impulsionada pelo aumento da receita média por assinante - resultado direto da sua polêmica, mas eficaz, guerra contra o compartilhamento de senhas.
A estratégia da Netflix de oferecer planos com anúncios está se mostrando acertada, com cerca de 40% das novas assinaturas optando por essa modalidade. Eu utilizo e acho super tranquilo de assistir. A Netflix está também diversificando seu conteúdo, investindo em eventos esportivos ao vivo e expandindo seu catálogo de jogos para 100 títulos.
Já o Spotify registrou um lucro recorde de €274 milhões, uma reviravolta impressionante comparada à perda de €302 milhões no ano anterior. A margem bruta subiu para 29,2%, resultado de uma combinação de fatores, incluindo demissões estratégicas, redução de gastos com marketing e aumento de preços em mercados-chave.
O Spotify agora conta com 246 milhões de assinantes premium, enquanto seus usuários ativos mensais chegaram a 626 milhões - um número ainda abaixo das expectativas, mas que a empresa planeja melhorar com marketing intensificado em mercados em desenvolvimento e a introdução de novos planos e preços. Há até rumores sobre o lançamento do Spotify Supremium, um serviço de streaming de áudio em alta definição para concorrer com plataformas como o Tidal.
"Estamos provando que não somos apenas um ótimo produto, mas cada vez mais um ótimo negócio". disse o CEO da empresa.
Tesla
Entre atrasos na produção e perda de foco, a Tesla parece estar derrapando no seu resultado.
No segundo trimestre de 2024, a empresa reportou uma queda expressiva de 43% nos lucros, com as margens de lucro atingindo seu nível mais baixo em cinco anos.
Elon Musk, tem direcionado o foco da empresa para projetos futuristas como o Robotaxi e o robô humanoide Optimus. No entanto, estes produtos ainda parecem distantes da realidade comercial.
O cenário está cada vez mais competitivo no setor de veículos elétricos. Para manter sua competitividade, a Tesla foi forçada a implementar reduções de preços, uma decisão que impactou negativamente suas margens de lucro.
A esperança da empresa reside nos novos modelos mais acessíveis prometidos para 2025, que podem ajudar a recuperar a participação de mercado e melhorar as margens.
No entanto, a falta de clareza sobre o cronograma de lançamento desses novos produtos e as constantes revisões de prazos estão desanimando até os fãs mais assíduos de Elon Musk.
Bom resto de domingo para todos!