Trend Override Newsletter #53
A IA chegou a Apple, mas não matou a Siri. Não saber copiar e colar é normal? No japão, não é só sua mãe que quer que você case. OpenAI e a esperança no river.
Resumo do que estará por aqui hoje:
🦞Siri isn’t dead, yet
💤A Gen Z Paradox
🍡Empurrãozinho no hashi
♠️OpenAI - sem cartas na manga
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🦞Siri isn’t dead, yet
Essa semana a Apple veio ao mundo tentar mostrar que não está ficando para trás no quesito IA. E a maior expectativa de todos de um funeral da Siri foi frustrada. Entre erros e acertos, aqui um resumo de tudo que seu telefone será capaz de fazer, desde que ele seja de um iPhone 15 Pro para cima (para os recursos de inteligência artificial).
Como não podia deixar de ser, a Apple tinha que dar seu nome a IA, e o escolhido foi Apple Intelligence. E notamos que existiu todo um cuidado para não mencionar a tão celebre e repetida siga AI durante as quase 2 horas de keynote.
O que foi considerado por muitos “O maior WWDC da história” foi um espetáculo, no maior estilo Apple de ser.
Vou dar minha visão, separando por tópicos, do que aconteceu:
O que tem de novo?
VisionOS 2.0: Algumas funcionalidades novas que vão chegar ao Apple Vision Pro, como interação com fotos via Machine Learning, possibilidade de criar vídeos interativos (que só poderão ser vistos no Vision Pro), uma maior resolução para os ambientes de trabalho digitais (a simulação de monitores que ele faz para seu Mac).
iOS 18 screen grid update: Aqui começa o processo de Andoidzação do iPhone. Agora será possível colocar os ícones do celular em qualquer lugar da tela. Além disso, para apps compatíveis, você poderá editar os ícones e criar telas monocromáticas como esse exemplo. Pode parecer uma perfumaria, mas essa funcionalidade era constantemente utilizada pelos usuários de Android para zombar as limitações do iPhone. Além disso, agora o control center será totalmente customizável em múltiplas páginas. Por fim, será possível criar pastas ocultas para esconder aplicativos, agendar mensagens, dentre outras melhorias.
Photo App: Outra atualização permite que você ache suas fotos com mais facilidades, com diversas formas de busca (como já existe hoje no Google Photos).
Apple Cash: Agora você pode realizar pagamentos apenas aproximando 2 celulares! E dividir a conta também ficou fácil!
Airpods: Agora, finalmente, os Airpods terão isolador de voz para chamadas e calls. Quem já tentou fazer um call na rua com um Airpod sabe o drama que é. Além disso, será introduzido o audio espacial (que acompanha os movimentos da sua cabeça) e também comandos que acompanham gestos realizados também com a cabeça.
WatchOS: A Apple segue em busca da Garmin para aumentar sua adesão para prática de esportes. Por isso, o novo sistema dos Apple Watches vem com um Training Mode que te ajuda a dosar os seus treinos com base no seu nível de esforço.
MacOS: Uma das principais ferramentas que chegará ao mac é a possibilidade de espelhar seu iPhone no Mac. Basicamente você poderá ver a tela do seu celular, sempre ligada, como uma janela no Mac. Isso para quem usa muitos apps que só funcionam no celular é uma porrada! Você pode inclusive arrastar coisas do seu Mac para seu iPhone pela tela do computador! Confesso que essa me surpreendeu bastante
A calculadora: De chacota a estrela do dia
A Apple segue tentando convencer as pessoas que o iPad é algo mais do que um dispositivo caro para se assistir vídeos no youtube. Brincadeiras a parte, é claro que para alguns casos como arte, desenho, arquitetura, dentre outros, o iPad é um excelente device. Mas, só isso, não te faz querer fazer um upgrade no aparelho a cada nova versão. Até porque, as melhorias no hardware são marginais, além deles terem feito o Air ficar bem próximo ao Pro, o que deixa de justificar o investimento no modelo mais caro para 80% dos casos!
O que começou arrancando risos em tom de piada, acabou com aplausos. Sim, o app de calculadora do iPad é IMPRESSIONANTE. Eu fiz faculdade de matemática, mas todos que fizeram geometria na escola já vão se identificar com o que ele é capaz. Como é impossível de explicar em palavras, o vídeo abaixo mostra um pouco do que ele é capaz.
Apple Intelligence: ChatGPT chega ao iPhone
Precisou de metade do evento para eles começaram a falar de IA. Parte do público já estava descrente que eles iriam anunciar algo nesse sentido. Mesmo sendo óbvio que recursos como o da calculadora utilizam inteligência artificial, o povo queria mesmo era ouvir a palavra IA. E ela chegou, com uma roupa nova, chamada Apple Intelligence.
Lembrando mais uma vez que isso só estará disponível no iPhone 15 Pro e iPad’s com processador M1 para cima (talvez esteja aí um motivo para você fazer upgrade no seu).
A aposta de Tim Cook não foi em um App de IA. O que ele fez foi espalhar o conceito de IA por dentro de todo ecosistema do celular. Entenda isso como um olho que vai percorrer suas ações, aprender com elas, e tornar o uso das ferramentas mais eficiente! Vamos a algumas dessas funcionalidades:
Os apps de escrita irão ganhar um assistente para corrigir, formatar, traduzir e te ajudar com os textos de forma geral.
Assim como presente na IA dos telefones Samsung, o app Photos irá ganhar uma varinha mágica para remover objetos indesejados. Espero que seja melhor do que o da Samsung, pois testei um pouco já e não gostei do resultado por enquanto!
Vem aí o GenMoji, que é um emoji personalizado gerado a partir de IA com base no que você quiser.
Private Cloud Compute: Em uma tentativa de dizer que seus dados permanecerão privados, esse conceito foi introduzido. Isso quer dizer que, grande parte dos recursos de IA irá ser processado dentro do seu próprio telefone. Os que forem mais complexos, no entanto, serão processados no Apple Silicon, em uma rede privada com os seus dados.
Agora entra a parceria com a OpenAI. Para tarefas que o iPhone julgar que o ChatGPT é bom em resolver, ele vai te perguntar se você gostaria que ele usasse a ferramenta para tal. Lembrando que o aplicativo do ChatGPT para iPhone já existe e continuará existindo (se você perdeu o post das férias com ChatGPT, clica aqui). O ChatGPT entra como uma ferramenta, dentro do iPhone, que ele pode usar (ou não, vai depender de você) para buscar respostas, seja pela Siri, por algum app, etc.. Aqui começa todo um problema de privacidade de dados. Por mais que eles tenham falado que iriam usar uma camada não logada do ChatGPT, para ele funcionar, automaticamente você teria que deixar seus dados fluirem para dentro de seus modelos. Isso abre diversos precedentes, bons e ruins, sobre a implementação de ferramentas de IA em dispositivos. Tenho bastante essa percepção que, os modelos no fim serão como linguagens de programação, que poderão ser acionados em diferentes dispositivos, de diferentes formas.
A treta com Elon Musk
Precisou de pouco para o Elon Musk ir pro X falar mal de tudo que a Apple apresentou. De fato, ficou bastante ponta solta no que se refere a segurança e privacidade dos dados. Já defendi aqui que papa Musk tem adotado essa postura por estar atrás nessa corrida pela IA. Mas, definitivamente, tem diversos pontos que ele levantou que são verdade, como os que eu explorei acima!
Além de vários exemplos, ele foi além e falou que, se o ChatGPT chegar mesmo ao iPhone como a Apple falou, todo funcionário das suas empresas será proibido de usar um iPhone! 🤯🤯🤯🤯
Privacidade hackeada - Porque você deveria se preocupar?
A grande verdade é que, grande parte das pessoas, está pouco se importando para privacidade dos dados. Alguém já leu aqueles termos antes de instalar alguma coisa? Mas hoje, claramente nós que somos o produto para as IA’s continuarem se desenvolvendo, por isso a OpenAI deixa todos modelos serem usados gratuitamente, por exemplo.
De frente com os influenciadores
Eu mesmo postei no Instagram uma coisa engraçada (se não me segue lá, chega mais), um dos maiores influencers de tecnologia do mercado, MKBHD, sempre comparece aos eventos da Apple e posta uma foto tirada com um celular Samsung. Ele, que é figurinha carimbada nos eventos e teve seu nome citado no palco pelo Tim Cook no último, dessa vez ganhou uma entrevista de 15 minutos com o CEO e pai do Apple Intelligence. Eu achei um golaço esse espaço, que conecta ainda mais a empresa com seus entusiastas.
💤A Gen Z Paradox
Outro dia assisti um vídeo que continha um relato de uma pessoa referente a um processo seletivo que estava fazendo. Após entrevistas e testes, o candidato que se saiu melhor informou um fato curioso: “Somente gostaria de avisar que eu não sou tão bom com computadores”. Sem entender muito bem, o entrevistador perguntou o motivo. “Sei programar, mexer em planilhas, documentos e apresentações. Mas hoje, faço tudo utilizando meu iPad ou celular”.
Desde este dia eu fiquei com esse fato na cabeça.
Fiz recentemente uma visita ao HQ do Google (se perdeu clica aqui) e, dentre uma apresentação e outra, eles mostraram uma pesquisa que apontava que os jovens da Gen Z preferem e tem mais facilidade em utilizar o Google Workspace do que o Microsoft Office. Sendo nascido e criado no mercado financeiro e sempre um viciado em tecnologia, este fato também ficou na minha cabeça.
O mercado financeiro é só um dos segmentos que ainda é “quadrado” no sentido de tecnologia. Diversos sistemas que eu utilizo profissionalmente, por exemplo, nem no Mac funcionam.
Venho discutindo aqui um dos tópicos que eu acho que vai ser pauta fixa para os próximos anos. Qual tela vai ganhar espaço do celular no dia a dia das pessoas?
Se entendermos que a próxima geração não vai mais saber operar direito um computador, o que muda no ambiente das empresas? E principalmente, quais serão os novos critérios de contratação?
Muito além dos exemplos que mencionei, isso já vem sendo tema de discussão na internet, mas não muito nas empresas, o que eu acho bem errado.
Essa semana mesmo uma menina que afirmou não saber o que era CTRL-C / CTRL-V (comando de copiar e colar) foi trending topic no X.
Em outro caso, uma entrevistada que utiliza celular desde os cinco anos e que ganhou seu primeiro smartphone aos 11 contou que, embora tivesse computador em casa, sua utilização não fazia parte da sua rotina escolar.
“Nunca tive aula de informática, nunca vi a necessidade disso. E nunca mexi com computador na escola, não sei se é porque venho de uma escola pública, mas nunca precisamos de uma formação mais adequada em Word, porque não pediam formatação específica, texto justificado. Agora, fazendo TCC, estou com dificuldade e isso está me atrasando bastante.”
Hoje, estagiária em um ambulatório, ela diz enfrentar dificuldade no ambiente de trabalho devido ao baixo conhecimento de informática. Isso que, teoricamente, não é uma profissão muito demandante de tecnologia.
Seus colegas da mesma idade, diz Laís, são uma "ameba" com o PC. "Eles digitam muito lento, muito lento", contou ela em um vídeo no TikTok. A jovem vê diferença até dentro de casa: "Meu pai digita rápido.".
Não só desconhecimento de comandos básicos, mas falta de “intimidade” com a máquina, lentidão na digitação, despreparo para preparar apresentações, responder formalmente e-mails e dos próprios programas que desempenham quais tarefas são reclamações comuns que aparecem na intersecção de vários relatos.
Aqui entra a segunda derivada do problema. Vivemos um período onde diferentes gerações coexistem nas empresas, áreas, cargos, etc. E essas diferenças podem causar atritos no trabalho. Segundo o relatório "Tendências de Gestão de Pessoas", da consultoria global Great People & GPTW, 68% dos entrevistados têm dificuldade para lidar com jovens da geração Z no mundo corporativo. A pesquisa ouviu 1.864 pessoas que ocupam, em sua maioria, cargo de gerência nas empresas.
🍡Empurrãozinho no hashi
Ficar solteiro pode ser uma alegria ou um pesadelo. Muitas variáveis influenciam, idade, momento de vida, apreço pela vida noturna, geografia, dentre outros!
Em uma edição la no comecinho da minha Newsletter falei sobre uma iniciativa do governo japonês para que os jovens voltem a beber. Após a pandemia, o jovem no Japão simplesmente parou de beber. É claro que isso tem um impacto positivo em diversos setores, mas, nesse caso, quem sofreu foi o PIB. Uma parcela do seu crescimento esperado era decorrente da venda de bebidas alcoólicas, o que não rolou.
Em mais uma iniciativa pioneira mundial, a capital do Japão está lançando um aplicativo de namoro oficial para impulsionar os baixos níveis de casamento e natalidade no país. A esperança é dar um "empurrãozinho" para os quase 70% da população que quer casar "mas não está" participando ativamente de eventos ou aplicativos para procurar um parceiro", disse um funcionário do governo.
O governo de Tóquio não está tratando o assunto de formar casais de maneira leve: o aplicativo exigirá um processo de registro meticuloso, no qual os usuários terão que fornecer documentação para provar que são "legalmente solteiros" e dispostos a se casar. Além disso, os solteiros terão que fornecer 15 peças de informações pessoais, incluindo altura, ocupação e formação educacional, todas visíveis para seus potenciais parceiros. E, para tornar as coisas ainda mais românticas (só que não), um certificado fiscal oficial para verificar seu salário anual.
Isso acontece em meio a uma crise populacional que o primeiro-ministro do Japão chamou de "a crise mais grave que nosso país enfrenta": os nascimentos diminuíram pelo oitavo ano consecutivo para 758.631, uma queda de cerca de cinco por cento. No ano passado, o Japão teve mais do que o dobro de mortes em relação a novos bebês.
Mas qual a diferença entre este aplicativo e um Tinder da vida? Segundo o governo, esse aplicativo é 100% dedicado a construção de famílias, diferente das demais plataformas! Veremos no que vai dar isso aí!
Para quem curte cultura japonesa, recomendo bastante esse canal, que é puro entretenimento!
♠️OpenAI - sem cartas na manga
Nunca se viu empresas de tecnologia crescerem tanto na história. Números que continuam surpreendendo positivamente, uma certa dificuldade em realizar um valuation e, principalmente, de entender o real impacto da IA no mundo para os próximos 2, 5 ou 10 anos!
Mas até os piores cenários parecem otimistas no momento.
Existem algumas vantagens de ser uma empresa de capital fechado, e certamente poder desenvolver seus modelos sem um holofote gigante chamado mercado no seu cangote é uma delas.
A OpenAI está nos holofotes. O ChatGPT é a primeira ferramenta e, certamente, irá dominar por muito tempo o contato do usuário com a IA. Isso para o bem, e para o mal!
Como os modelos apresentaram uma evolução muito grande, já se falava em qual versão do ChatGPT iríamos estar próximos a AGI (a IA mais próxima à inteligência humana). Para o usuário não interessado na parte técnica, a evolução nos modelos traz para o usuário a capacidade de lidar com mais parâmetros, aumenta também sua velocidade de processamento e incorpora dados mais recentes nas suas respostas. E outra estratégia que a OpenAI fez foi tornar os seus modelos mais eficientes gratuitos para todos.
Mas essa semana, Mira Murati, CTO da empresa, disse: "Dentro do laboratório, temos esses modelos capazes, e eles não estão tão à frente do que o público tem acesso gratuitamente. E essa é uma trajetória completamente diferente para trazer tecnologia ao mundo do que vimos historicamente.
É uma ótima oportunidade para envolver as pessoas; isso lhes dá um senso intuitivo das capacidades e riscos, e permite que as pessoas se preparem para a chegada de IA avançada ao mundo.
Obviamente, as oportunidades são enormes. Falamos muito sobre os riscos — eles são muito importantes, mas também, não faríamos isso se não acreditássemos que as oportunidades aqui são enormes."
Isso trouxe uma pulga para trás da orelha de todos. Será que eles não estão tão a frente dos concorrentes assim? Sabemos dos altos custos para manter esses modelos up and running, o que nos confirma uma sensação que nós sermos o produto deles para o desenvolvimento destes modelos (não que isso seja um problema, é apenas uma constatação).
Após essa declaração o clima ficou meio azedo, com o mercado se perguntando o quão longe estamos de fato da AGI. O quanto será que isso interfere nos planos das outras empresas que “dependem” disso?
Parece que a OpenAI vai precisar de uma carta boa no river para sair dessa.
Fico por aqui hoje, espero que tenham curtido e vejo vocês semana que vem!