O otimismo sombrio de Galloway para IA
Entre o otimismo e o precipício: Como o desenvolvimento da IA desafia nossa saúde mental. Quais as principais apostas e riscos levantados por Scott Galloway no BTG 2024.
Está acontecendo essa semana o excelente evento do BTG Pactual, a CEO Conference 2024.
Foram diversos painéis onde foram discutidos diversos temas importantes para o ano de 2024.
Hoje, tivemos a oportunidade de ter uma aula particular com uma mente brilhante do mercado, o Scott Galloway.
Galloway, que hoje vive em Londres, é professor da NYU e publica regularmente sobre os temas mais discutidos na atualidade. Anualmente, ele faz um post famoso de previsões para o próximo ano. De uma forma bem didática, ele analisa posteriormente os acertos e erros dessas projeções.
Clique aqui para ver o que ele falou sobre este ano!
Trouxe aqui o que ele trouxe de novidade hoje, especificamente sobre AI e tecnologia.
Saúde x AI
Ao contrário de onde muitos estão olhando, o segmento que ele aposta ter mais espaço para desenvolvimento, em termos de AI, é o setor de saúde. Segundo ele, uma intersecção entre saúde e inteligência artificial, é o hotspot para apostar hoje.
Sistemas que permitam, a partir de inputs de dados como resultados de exames, dar breves diagnósticos e antecipar possíveis problemas mais sérios deverão ganhar espaço em 2024.
A aposta dele é que estes sistemas passem a oferecer diagnósticos, baseado em dados como exames e alimentação, sobre possíveis problemas que o usuário possa enfrentar.
Na luta contra doenças mentais e depressão, estes sistemas podem ser bem poderosos. Baseado em LLM (Large language model), podemos apostar em sistemas que irão, a partir de uma análise da sua escrita, por exemplo, identificar potenciais sinais de depressão, falta de motivação, conflitos pessoais no trabalho, dentre outros. Aqui temos um paradoxo interessante. Por um lado, temos a aposta que a inteligência artificial está criando pessoas mais suscetíveis a depressão e por outro lado estamos apostando que ela irá nos ajudar a curar estas doenças. Mas entendo que neste ponto ele esteja se referindo mais a como integrar no nosso dia a dia (e-mail, teams, messenger, etc) ferramentas de IA que nos ajudem a identificar estes comportamentos no trabalho. Certamente ainda vai existir uma grande discussão sobre a privacidade destas comunicações, mas este caminho parece ser o futuro dos recursos humanos.
Lembrando que hoje já temos diversos experimentos que mostra que, mesmo sistemas abertos como o ChatGPT tem uma grande influência em suas respostas pela forma com a qual você elabora as suas perguntas, considerando entonação, educação, dentre outros fatores.
Outro problema grande nos Estados Unidos é a qualidade do serviço de saúde em geral. Em uma pequisa, apenas uma a cada cinco pessoas são felizes com o serviço de saúde. Além disso, existe uma grande crítica a dificuldade dos médicos e profissionais da saúde de demonstrar empatia quando estão lidando com seus pacientes. Uma aposta dele é que a inteligência artificial possa resolver isso através do treinamento de BOT’s mais simpáticos do que os médicos.
AI Washing
O que significa AI Washing?
"AI washing" é um termo informal usado para descrever a prática de empresas fazerem alegações infundadas sobre o uso de IA em seus produtos ou serviços, similar ao "greenwashing". O greenwashing refere-se a empresas que fazem representações falsas sobre a sustentabilidade ambiental de suas operações ou produtos.
O AI washing surgiu como uma maior preocupação recentemente, dado o crescimento exponencial das aplicações de IA nos mais diversos setores da economia. A FTC dos EUA advertiu as empresas que estaria vigilante a respeito de alegações falsas de IA na publicidade, desde exageros sobre as capacidades de produtos alimentados por IA até fabricações completas de que um produto incorpora tecnologia de IA.
Esse foi um dos pontos levantados por Galloway. A necessidade de mostrar ao mercado que está incorporando inteligência artificial nos seus produtos, independente do segmento da sua empresa, foi um grande ponto de alerta.
Podemos estar vivendo na era do AI Washing, onde vai ficar bem difícil de expurgar o real resultado e impacto do desenvolvimento da inteligência artificial dentro dos números das empresas.
Corrida da IA
Na minha newsletter semanal Trend Override, em diversas edições, falo sobre a corrida pela dominância neste mercado. Na visão do Galloway, que eu compartilho muito, este mercado é “winner takes all”. Teremos uma corrida de desenvolvimento e produtos, mas, no fim, quem conseguir ter a melhor estrutura vai ganhar o título de dona da IA.
Outro ponto que também já abordei bastante no T.O. é que todos os serviços de IA tem um alto custo computacional. A parte de computação por trás de qualquer modelo é brutal e vai fazer com que muitas e muitas empresas fiquem pelo caminho.
Nesse cenário desafiador, as fichas dele estão na Microsoft. Os motivos são simples. A empresa mostrou um crescimento muito consistente nos últimos anos, com uma grade de produtos que foi se reinventando ao longo dos anos. Pelo seu posicionamento no mercado de Cloud Computing e pelas iniciativas que eles já estão à frente em IA, a empresa se torna um excelente candidato para ganhar essa disputa.
Por mais que existam diversas iniciativas ao redor do mundo com relação à IA, ele lembra que quem dita as regras hoje está a 10 milhas do aeroporto de São Francisco. Nesta frase, entenda muito por ter cuidado ao investir em startups que possam vender sonhos fantásticos de IA, visto que a dificuldade de se entregar um bom produto e manter ele vivo são enormes.
Mercado de Trabalho
Um dos temas mais discutidos e temidos é:
A inteligência artificial vai roubar todos os empregos ou gerar mais empregos?
Na visão dele, a IA irá criar mais empregos. Mas isso passando por alguns estágios. Um conselho que ele dá e que gostaria de reproduzir é: Se você ainda não utiliza nenhum serviço de inteligência artificial, comece hoje. Seu emprego pode não ser substituído por uma IA, mas possivelmente vai ser por uma pessoa que entenda IA.
Um exemplo legal que foi citado foi de automação no chão de fábricas automotivas. Inicialmente, gerou-se um grande pânico que a automação neste segmento iria gerar desemprego. No fim, o que ocorreu foi que a automação gerou melhores processos, que acarretou em melhores produtos e, com o aumento do mercado, gerou mais empregos do que nunca.
Até as coisas se acertarem, é claro que podemos ver, principalmente em alguns segmentos, substituições e cortes, mas no longo prazo, a visão é positiva para o mercado de trabalho.
Lembrando que vivemos uma fase onde grandes empresas estão realizando demissões em massa. Números bem expressivos vem sendo divulgados em diversos segmentos dentro das big techs. E isso não pode ser 100% atribuído a IA, como vem sendo feito em muitos canais.
Riscos
Entramos então na parte final e bem interessante. Quais são então os riscos da evolução da inteligência artificial?
Galloway considera que os 2 riscos principais que o mercado aponta não apresentam perigo iminente:
Destruição de empregos
Como explicado no ponto anterior, com a disseminação da IA em todos segmentos, podemos estar otimistas com a criação de mais empregos no longo prazo. Com um aumento de produtividade, profissionais de diversas áreas vão poder focar melhor em suas habilidades e aumentar sua produtividade. Com a sistematização de processos, empresas vão poder ganhar escala, crescer e assim movimentar mais o mercado de trabalho.
Skynet
A brincadeira com a Skynet (Exterminador do Futuro) é referente ao medo da IA ficar tão inteligente a ponto de se organizar para exterminar os humanos. Neste ponto, ele cita exemplos da capacidade do ser humano de controlar armas nucleares, guerras, dentre outros.
Agora vamos aos 2 riscos reais na sua visão:
Desinformação:
Esse é o maior risco atual da IA. E ele dá um exemplo prático bem interessante, sobre as próximas eleições dos Estados Unidos. Em seu exemplo, ele cita o risco para Vladimir Putin de uma vitória de Donald Trump. Putin, que já gastou mais de 70 bilhões de dólares na guerra da Ucrânia, teria um grande problema caso Trump vencesse a eleição. Sabemos que a Rússia tem grandes engenheiros e nada impediria Putin de usar parte desse recurso para formar um exercito digital que ajudasse a diminuir a populariadade de Trump, fazendo com que ele perdesse as eleições. Isto está longe de ser uma teoria da conspiração. A legislação em torno da IA ainda é muito vaga. Esse é apenas um dos exemplos de desinformação e de seu poder.
Solidão:
Outro impacto grande será na solidão humana, resultando em depressão, ansiedade e outros problemas relacionados a saúde mental como abordei mais acima. Na visão dele, que eu também compartilho, a dificuldade de se ter relacionamentos reais, casamentos, namoros e convivio social irá resultar em uma geração que busca entretenimento apenas no Netflix. Que irá se relacionar com Bot’s namorada, robôs domésticos, dentre outros. Essa falta de relacionamentos da vida real irá resultar em uma geração sem amigos, sem vida, repletos de ansiedade e solidão. Essa falta de saúde mental irá resultar em uma queda cada vez mais abrupta nas taxas de natalidade. A possibilidade de criação de um avatar humano com todas características que cada um queria ter vai fazer com que o convivio social seja cada vez menos real e mais virtual. Ele finaliza com um exemplo que, na sua visão, um jovem que fuma um maço de cigarros por dia mas tem uma vida social, trabalho e relações com pessoas de verdade vai ter uma vida mais saudável que um jovem que não sai de casa, só tem relações virtuais e está exposto a todo tipo de disturbio mental possível.
Vision Pro
Sobrou até para o assunto mais comentado da semana, o Apple Vision Pro. Na sua visão, nos últimos dois anos, Tim Cook apostou grande no desenvolvimento do óculos de VR da Apple pois ele não queria ficar para trás da Meta. Como Zuck investiu pesado no Quest e também estava dedicando um esforço desproporcional ao Metaverso, ele não podia ficar de fora dessa.
Mas, nas suas palavras, os óculos de VR são as coisas mais estúpidas já inventadas. Que eles irão causar alucionações nas pessoas que vão normalizar que aquela é a forma correta de se interagir. Ele vê apenas aplicações específicas como agregando valor para o uso do óculos, como entretenimento, compras, pornografia, dentre outros. Mas que ele não acredita que serão dispositivos que serão aderidos por grandes massas!
Aproveitando os tapas na Apple, ele sacou seu telefone do bolso e o classificou como “hate machine”. As pessoas hoje passam grande parte do dia no telefone, olhando uma vida mais feliz e mais rica que a sua. O efeito disso é o mesmo mencionado acima, depressão, solidão e uma geração que não tem paciência de construir riqueza e sucesso ao longo dos anos.
Tempo é o segredo dele para a felicidade. Tempo que requer paciência que é o que poucos estão dispostos a ter.
TikTok
Outro vilão nomeado por ele para a briga de China x EUA foi o TikTok. Em grandes pesquisas nos Estados Unidos o TikTok foi nomeado como o escolhido dentre todos os apps de entretenimento disponíveis. Isso acende um alerta grande na guerra geopolítica entre EUA e China, visto que não é possível filtrar conteúdos anti-américa que estejam disponíveis lá dentro e que caiam no ponto falado anteriormente da desinformação em um cenário eleitoral.
Fico por aqui, esse foi um breve resumo da fantástica entrevista do Galloway para o BTG CEO Conference 2024.
Parabéns para todos meus amigos do BTG por esse evento incrível.
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