Inteligência Artificial no Brasil...
...um sonho de um país que só aposta no jogo errado
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Qual a relação entre a internet, a CPI das Bets, a Virginia e a inteligência artificial?
Se quisermos entender o futuro da IA no Brasil, precisamos falar destes tópicos.
O Brasil, as Bets e o amargo presente sem IA
Hoje, a internet brasileira acordou em clima de final de BBB:
A CPI das Bets estava no ar, a Virginia estava nos trending topics de todas as plataformas e um desfile de celebridades transformando o Congresso em passarela de publicidade inundou a internet.
O que era pra ser uma investigação virou um episódio bônus digno de uma série de comédia do Netflix, que facilmente poderia se chamar “Keeping Up with the Influencers”, com direito a moletom no púlpito, selfie no plenário e cupom de desconto no feed.
Foram tantos momentos esdrúxulos protagonizados pelas estrelas desse reality, que fica difícil eleger o melhor:
Outfit: Bem diferente da skin do mundo virtual, Virginia veio com um moletom estampando o rosto da filha e um visual “despojado”, minuciosamente escolhido para personificar uma persona jovem, inocente e alheia a uma acusação grave.
Selfie: Um pedido, digamos, inusitado. Foi mais um fato presenciado que mais parecia uma cena fora do script do filme.
- Copo Stanley: Um dos maiores ícones da Faria Lima também esteve presente, mas causando um pouco de confusão.
Navegando: Depois de postar um vídeo voltando para casa, em seu avião particular, é claro que ele veio. O CTA, ou “call to action". 71% de desconto em seu site, que certamente vai protagonizar um épico dia de vendas hoje!
Tudo isso, caro leitor, deixa claro a quase certeza que ela carrega da impunidade que já pode ser um spoiler da próxima temporada dessa novela.
Mas calma. Esse não é um texto sobre apostas. É sobre o que a gente escolhe apostar.
O Brasil, mais uma vez, apostando no jogo errado…
Em média, o brasileiro passa, por dia mais de quatro horas e meia grudado no celular. Destas, são 3h27 dedicadas as redes sociais.
É o tempo de um filme do Scorsese, de uma viagem, de duas partidas de futebol, todo santo dia, dedicado a ver fotos, reels, anúncios e, claro, clicar em links que levam para sites de aposta.
Se engana quem pensa que o algoritmo está ali apenas para te bombardear com anúncios de produtos que você nunca soube que precisava, mas que ao ver não consegue mais imaginar sua vida sem.
Existe uma psicologia forte por trás das redes sociais, e isso vai muito além dos algoritmos. Entender o funcionamento do cérebro, e seus mecanismos de recompensa, são fundamentais para entender como prender o usuário dentro das redes o maior tempo possível.
Esse mecanismo faz com que a gente queira sempre saber o que vem depois, todos os dias, todas as horas, só mais um pouquinho de internet. E assim garantimos um boom de dopamina, com um feed infinito ao nosso dispor, no alcance das mãos, 100% do nosso tempo.
Isso também nos aprisiona dentro do mundo fantasioso da internet, provocando uma dissociação do mundo externo. Seja para aliviar o estresse, para passar o tempo, ou simplesmente para ver alguma informação. Tudo isso é feito para criar uma verdadeira Azkaban, onde somos submetidos a uma espécie de feitiço, que não mais conseguimos curar.
Voltando a Virginia Fonseca, a rainha do Instagram nacional, ostentando 53 milhões de seguidores apenas no Instagram, mais de um quarto da população, ou 90% dos votos que recebeu o último presidente da republica no segundo turno.
No universo dos negócios, a marca de cosméticos de Virgínia, WePink, faturou sozinha R$ 750 milhões de reais no ano passado.
Das 421 empresas listadas na bolsa Brasileira, apenas 252 superam este número. Se contarmos tudo que ela fatura com suas redes sociais e, claro, com as Bets, certamente teremos um número na ordem dos bilhões de reais. Tudo isso parece marketing, e totalmente legal.
Mas o jogo em questão está nos bastidores: especula-se que parte destes influencers não só divulgam as casas de aposta, como em campanhas publicitárias, mas também lucram com o tilt emocional da audiência: Quanto mais o seguidor, agora cliente da bet perde, mais o influencer ganha.
É claro que não faltaram argumentos em sua defesa:
A Mega Sena, por exemplo, é a “bet” do Governo. Porque ela não está sendo investigada?
E os times de futebol e campeonatos que hoje estampam grande parte das Bets como patrocínios master em seus uniformes?
A IA virou figurante na novela da internet brasileira
E aí a gente se pergunta: por que com inteligência artificial seria diferente?
Enquanto China, EUA e até a Estônia constroem políticas públicas robustas e experimentam integrações com IA em tudo, do ensino básico à diplomacia, o Brasil ainda trata IA como se fosse um personagem secundário de novela das 8, muito promissor, mas sem tempo de tela.
Por aqui a IA mal virou manchete. Quando vira, é com o mesmo tom que falávamos de “robôs que vão roubar empregos” em 2005.
É claro que as empresas evoluíram com a internet, mas em um país do tamanho do nosso, fica impossível não terminar cada capítulo dessa história com uma frustração de “quero mais”.
O Brasil perdeu o onboarding
A IA não começou agora, mas está andando a passos largos, todos os dias. Toda nova tecnologia traz uma vantagem aos participantes: Começar o jogo com o tabuleiro em sua configuração inicial.
Este me parece mais um caso que vamos começar a jogar 30 rodadas depois.
IA não é hype
Embora no mercado de public equities não tenhamos casos emblemáticos no Brasil de empresas de tecnologia, várias startups inovadoras e muito promissoras estão assumindo o protagonismo desse filme.
A última grande empresa “brasileira” que fez um IPO foi o Nubank, em 2022. Que, ainda assim, optou por fazer isso nos Estados Unidos.
Antes disso, tivemos um punhado de empresas “tech” que viram suas ações despencar até 90% desde o IPO.
Mesmo se entrarmos em um cenário positivo para nosso país nos próximos anos, se a IA cumprir seus planos de protagonizar o mundo, o que irá sobrar para nós?
A IA vai esperar o Brasil virar trend?
Estamos acompanhando do lado de fora a uma verdadeira batalha digital entre os EUA e a China. Quem dominar a tecnologia primeiro, irá utilizar isso como leverage no xadrez.
Empresas como Meta, Palantir e a própria OpenAI estão cada vez mais próximas do governo americano.
Do outro lado do mundo, a China já conta com tecnologias como DeepSeek em grande parte dos dispositivos “smart” vendidos por lá.
Enquanto o maior medo dos grandes magnatas da tecnologia, como Zuckerberg, Sam Altman e até Elon Musk é encarar uma corte americana, aqui estamos fazendo piadas, tirando selfies e, no dia seguinte, apostando o dinheiro que temos e não temos no famoso Tigrinho, um jogo onde um sistema programado para ganhar de você, está do outro lado.
A gente ainda pode jogar o jogo da IA, mas precisa parar de ser figurante no próprio futuro.