Ignorando os sinais
Os sinais que definiram as eleições americanas começaram a ser emitidos em 2017. Tudo que aconteceu de lá para cá e o que esperamos do Trump 2.0.
Muitos ainda subestimam o poder da internet. Neste post trouxe um pouco da história que vem sendo escrita na internet, de um cara que disposto a qualquer coisa pelo que acredita, acabou sendo o protagonista de uma das eleições mais marcantes da história americana.
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O preço da liberdade: 44 bilhões de dólares
O Twitter já havia conquistado seu espaço no universo das redes sociais. Sua relação com suas rivais era pacífica. Como em um filme de high school americano, o Instagram assume o personagem popular. O Snapchat, aquele que já foi o queridinho, mas agora está lutando para continuar tendo seu lugar. O Facebook seria o pai dos alunos e o Twitter, o nerd da classe.
Assim como em Hollywood, essa história começou com uma comédia romântica.
Musk começou a se tornar um usuário assíduo do Twitter. Aos poucos, foi se tornando um usuário “referência” para a plaraforma.
Na época, o então CEO Jack Dorsey se aproximou bastante de Elon. Em pouco tempo, eles cultivaram uma amizade, foram vistos juntos em diversas ocasiões, incluindo um período de férias. Dorsey chegou a tweetar que Elon era o usuário modelo da plataforma, que seu comportamento na rede e forma de interação com o público era o que ele tinha sonhado para o futuro do Twitter.
Nesta época já existia uma política de controle de conteúdo na rede. Em um episódio do Joe Rogan Experience, em Fevereiro de 2019, Jack Dorsey explicou que o algoritmo da rede funcionava de forma a classificar tweets e respostas, dando menos relevância e visibilidade aos que julgasse ter “mensagens de ódio”, fake news, dentre outros. A pergunta óbvia que ficou na ocasião foi: E com quem fica a responsabilidade de julgar qual comentário é ou não classificado dessa forma? O algoritmo? Os engenheiros? Pergunta essa que só foi respondida, em formato de funcionalidade, por Elon Musk, quando inseriu as notas da comunidade as postagens do Twitter.
Tudo parecia estar em harmonia.
Mas uma brincadeira que começou em 2017 foi aos poucos tomando forma.
Ao longo dos anos, Musk foi nutrindo diversos sentimentos que o motivaram a, enfim, fazer uma proposta pelo Twitter. A plataforma foi perdendo a transparência. Perfis censurados, usuários banidos e conteúdos apagados começaram a se tornar rotina dentro da rede.
O maior pesadelo de Musk, a cultura woke, foi aos poucos dominando tudo que estava a sua volta. Não demorou muito até chegar dentro da sua casa. O que muitos consideram o último gatilho, que o fez dar a ordem de compra da plataforma, foi o dia que seu filho Xavier, de 16 anos, optou por realizar uma cirurgia de mudança de sexo.
Walter Isaacson, que escreveu a biografia de Elon, relatou: “A separação de seu filho Xavier doeu muito mais do que qualquer outra coisa após a morte do seu filho primogênito Nevada (que morreu em seus braços após 10 dias de seu nascimento) Elon culpou em parte a ideologia que Jenna absorveu na Crossroads, a escola progressista que frequentava em Los Angeles”.
Começava ali uma das negociações mais turbulentas dos últimos anos.
O Twitter na época tinha capital aberto. O preço para conseguir fechar a negociação foi de 44 bilhões de dólares.
A negociação foi dura. Grande parte do valor de uma rede está no número de usuários ativos. No decorrer do processo, Musk descobriu que um terço dos usuários eram, na verdade, bots. Algo que quase melou a compra.
Mas era tarde demais, o cheque foi assinado, Musk e Jack tomaram caminhos distintos após isso e um dos dias mais importantes da história das redes sociais chegou!
Let that sink in - o dia que mudou a história
A ideia era simples, mas muito difícil de executar. Vamos transformar essa rede no maior hub de informação do fundo, totalmente descentralizado e transparente.
Um verdadeiro layoff passou pelo Twitter. Escritórios ao redor de todo mundo foram fechados. Os números da empresa eram bem piores do que pareciam. Mas a missão de Musk era muito maior. O sonho dele era que o Twitter fosse um super app, onde toda informação pudesse ser passível de checagem e todas pessoas, independente de suas ideologias, tivessem seu espaço.
Mas muita coisa também precisava ser desfeita, para que Musk pudesse chegar lá. Uma delas foi uma das mais importantes, e foi feita ainda em 2022. Após 22 meses de banimento, Musk removeu o banimento da conta oficial de Trump da plataforma, ato que sem dúvida intensificou uma aproximação entre os dois!
Pronto para voar mais alto, Musk cortou de vez as asas do Twitter, que virou X.
Com isso, a internet estava pronta para uma nova era: The Elon Times
O que começou em 2017, fez de Musk o protagonista em uma das eleições mais importantes da história americana. Esses são apenas alguns sinais, entre vários outros, que identificamos ao longo destes anos.
Mas quem considerou que esses eram os ruídos, e não os sinais, se surpreendeu.
A eleição americana é mais um episódio do poder transformacional da internet!
Joe Rogan x Call Her Daddy - Burrice ou arrogância?
Joe Rogan é um dos maiores podcasters do mundo. Ele ficou bastante receoso em entrevistar Trump. Mas, as vésperas da eleição, topou. Inclusive, convidou a Kamala para uma conversa no mesmo formato: 3 horas de conversa franca, que obviamente, ela recusou.
Kamala recorreu ao podcast Call Her Daddy para ser sua voz na internet. Em um episódio de pouco mais de sete minutos, ela apenas tentou criticar as falas de Trump e se apoiar em seu maior tema de campanha: O aborto, tema que hoje é de maior responsabilidade do governo de cada estado. Seu receio é que, um governo de Trump poderia reverter as permissões de prescrição de medicamentos abortivos. Ainda veremos o desenrolar deste tema agora que a eleição passou.
Enquanto Musk passava o dia no X, respondendo usuários e fazendo campanha, Kamala fingia que falava com eleitores com o app de câmera aberto no celular.
Com tantos sinais, fica difícil imaginar como essa história teria um final diferente.
Mas agora, com a eleição decidida, o que esperamos para tecnologia, inteligência artificial, China e Brasil?
Obs: O vídeo da entrevista do Trump no Joe Rogan, mesmo com quase 50M de views, aparece bem para baixo na busca do youtube. Já o da Kamala, com menos de 1M, é o primeiro vídeo (até hoje):
Muda o vilão: Saem os tech CEO’s, entra China
Make America Great Again
A gente lê tanto esse slogan que esquece de pensar no que ele significa.
Trump não está feliz com o Estados Unidos que ele assume. Uma das suas principais propostas de governo é “ arrumar a casa”. E fortalecer a America passa por protegê-la da China (ou enfraquecer a China, chame como achar mais conveniente).
Alguns analistas disseram que as tarifas propostas por Trump e sua postura em relação à China poderiam impactar negativamente a indústria de IA.
"Esperaríamos iniciativas significativas de IA de Washington dentro dos EUA que seriam um benefício para Microsoft, Amazon, Google e outros players de tecnologia."
Será?
Acreditar nisso é acreditar que os estados unidos dependam da china para continuar impulsionando a inteligência artificial no mundo.
Mesmo Musk sendo um cara mais preocupado com a regulação de empresas como a OpenAI (um pouco por dor de corno), o governo tem todas as cartas na manga para incentivar empresas americanas a explorar esse segmento.
"Você pode invocar poderes de emergência e dispensar muitas regulamentações ambientais para permitir que as pessoas construam novas usinas nucleares e outras capacidades de geração elétrica para alimentar os grandes centros de dados que as pessoas querem para estes modelos avançados de IA", disse Gregory Allen, que é o diretor do Centro Wadhwani AI no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais e anteriormente trabalhou com IA no Departamento de Defesa sob Trump e Biden.
Além disso, "Está muito claro para mim que revogar a ordem executiva de IA vai acontecer bem cedo na Administração Trump."
IA na era Trump
Trump ainda tem sido bastante silencioso sobre IA. Ele fez um comentário sobre isso em seu discurso na convenção:
"A IA precisa de energia tremenda... literalmente o dobro da eletricidade disponível agora em nosso país."
E ele não está errado.
Mas, em um jantar recente no Vale do Silício com os VCs Marc Andreessen e Ben Horowitz, ele falou: "A IA é muito assustadora, mas temos absolutamente que vencer. Porque se não vencermos, então a China vence, e esse é um mundo muito ruim."
Isso captura a filosofia de Trump sobre IA: menos regulamentação, mais competição com a China. O que sabemos até agora:
Derrubar as Regras de IA de Biden "no primeiro dia": A plataforma do Partido Republicano se compromete a revogar a ordem executiva de Biden sobre IA. Em vez disso, Trump quer testes de segurança liderados pela indústria—provavelmente para restringir as regras existentes em vez de eliminá-las.
Lançar um "Projeto Manhattan" para Defesa com IA: Programas de desenvolvimento de IA focados em militares estão sendo elaborados, beneficiando contratantes de defesa como Anduril e Palantir, com foco na competição com a China.
Manter um regime regulatório "leve": Onde ele usa leis existentes em vez de criar novas. Como resultado, a regulamentação estadual pode aumentar, particularmente em estados Democratas para compensar.
5 consequências diretas da vitória de Trump:
Ele promete "proibir o uso de IA para censurar o discurso dos cidadãos americanos."
O trabalho de orientação de segurança de IA do NIST pode ser reduzido para focar apenas em riscos de segurança física e o Instituto de Segurança de IA (AISI) pode ser encerrado.
É provável que ele aprove controles de exportação mais rígidos para a China, especialmente para tecnologias de desenvolvimento de IA.
Suas políticas comerciais podem apertar o capital necessário para P&D em IA.
Ele pode forçar o fechamento de brechas que empresas chinesas estão usando para acessar ferramentas de IA através de serviços em nuvem.
A abordagem "leve" de Trump pode significar capital inicial mais fácil, implantação mais rápida de tecnologia e menos participação na governança global.
Estas são todas medidas populares na indústria. Mais de 40% dos executivos se preocupam com custos de regulamentação, e muitos VCs argumentam que as regulamentações atuais arriscam criar um monopólio da OpenAI. Esse argumento ganha força com o novo papel de Musk no governo, visto que ele tem várias ressalvas com a OpenAI.
Além disso, a tarifa proposta por Trump de 10% sobre importações americanas e 60% sobre produtos chineses pode impactar os custos do setor de IA (como aqueles feitos em Taiwan).
Quais as conclusões até agora:
Trump reconhece que a IA é "assustadora" enquanto simultaneamente pressiona para remover proteções de segurança.
Seu primeiro mandato realmente estabeleceu algumas políticas significativas de IA (que Biden manteve!), focando em P&D, desenvolvimento da força de trabalho e proteção das liberdades civis.
Não podemos esquecer o papel que Musk terá no governo e quais bandeiras ele levantou antes da eleição. Elon saiu da OpenAI e foi vocal ao afirmar que a IA precisava ser mais regulada. Um comportamento que foi rapidamente atribuído a ele estar “para trás” na corrida, mas que o fez seguir um caminho diferente dos seus concorrentes.
Podemos imaginar também que incentivos para empresas de IA americanas sejam mais frequentes, parte do plano de impulsionar tecnologias locais e proteger os estados unidos da China.
Empresas com contratos com governo como SpaceX e Palantir já possuem algumas cláusulas de proteção das tecnologias desenvolvidas, restrições para contratação de profissionais não americanos, dentre outros critérios. Podemos enxergar algo nessa linha também para outras empresas.
O bit venceu mesmo!
Em um passado não muito distante, Trump chamou as moedas digitais de golpe. Mas no início deste ano, ele mudou de opinião e declarou que faria dos EUA a "capital mundial das criptomoedas".
Os planos de Trump incluem demitir o presidente da SEC, Gary Gensler, um grande antagonista das criptomoedas, e pressionar por legislação pró-cripto no Congresso.
Não precisamos dizer muito mais. O que aconteceu após a confirmação da eleição?
Esse foi um dos sinais mais claros da eleição!
Desde que comecei a escrever esse artigo o Bitcoin não para de subir! Parte disso é por conta do incentivo que Trump está prestes a dar para as criptomoedas. Parte é por conta do papel que ele pode assumir nas economias dos países. Se o presidente dos EUA começar a montar uma reserva americana em BTC, será que os outros países não irão pelo mesmo caminho?
Fun fact é o que aconteceu com El Salvador, que em 2022 começou a montar uma reserva em BTC e hoje viu suas reservas crescerem mais de 150 milhões de dólares. No entanto, a estratégia de El Salvador pode ser usada por todos que acreditam no potencial das criptomoedas: Comprar 1 btc por dia. Claro que hoje, ainda mais no Brasil, isso se tornou inviável, mas você pode adaptar essa filosofia para a sua realidade para o caso de querer ter alguma exposição aos criptoativos (não é recomendação de investimento, que fique claro)!
Big techs e a gestão de risco
Na última edição da Newsletter, trouxe esse gráfico sobre os maiores apoiadores de cada campanha eleitoral:
O resultado pode não refletir a posição que as empresas de tecnologia passaram no período pré eleitoral. Mas, sem dúvida, economicamente ele reflete um cenário de muito crescimento para todas elas.
Por isso, as mensagens não podiam ser diferentes:
É claro que todos querem a mesma coisa: Crescer! Mas agora esses CEO’s precisam fazer um alinhamento grande dentro de suas empresas, pois grande parte de seus funcionários apoia o presidente que não venceu.
O novo presidente gosta de 1) acordos comerciais justos e 2) ganhar dinheiro. Isso o coloca em alinhamento direto com a tecnologia americana, que agora está na mira de todos os outros governos relevantes do planeta!!!
Um exemplo disso foi o que ocorreu no Google, onde a gestão teve que passar os dias que antecederam o dia da eleição removendo postagens políticas dos quadros de mensagens internos da empresa.
Mas isso segue uma tendência de CEOs de tecnologia, incluindo Sundar Pichai, que se aproximaram de Donald Trump nas últimas etapas da campanha, não apenas elogiando-o e criticando sua oposição, mas também discutindo política comercial. Isso é mais do que uma mudança de clima; é negócios.
Mas quem ficou feliz, foi todo mundo que, de certa forma, investia em Elon Musk.
Conseguimos medir o otimismo gerado para Musk por 2 ângulos diferentes:
Tesla:
X (embora seja uma empresa privada, posts como esse demonstram o otimismo dos investidores):
E o brasiu?
Como Musk é o rei dos memes, vou usar um para simbolizar como nosso Brasil tem se posicionado frente a tudo que está acontecendo.
Durante várias semanas, o Trend Override trouxe os capítulos da briga de Musk x STF Brasileiro. Musk criou, inclusive, uma conta chamada Alexandre Files onde começou a publicar alguns pedidos do STF para a rede social banir membros, dentre outras acusações.
Mesmo antes de assumir, Trump já disse que vai desmantelar o que chamou de “deep state”. Para isso, ele vai criar uma comissão da verdade para tornar público todos os documentos de espionagem, corrupção e censura do deep state! “Estabeleceremos uma comissão da verdade para desclassificar todos os documentos sobre espionagem, corrupção e censura”
Falando um pouco em cenário, espera-se que a economia americana continue a acelerar. Como resultado disso, a inflação lá continuará a ser um problema, o que obrigará o FED a manter o nível dos juros em um patamar mais alto.
Isso irá continuar a pressionar o dólar aqui no Brasil…
Por mais que este cenário possa a beneficiar as exportações, vai dar mais uma dor de cabeça para turma da casa branca tupiniquim, que está patinando para entregar um plano de corte de gastos.
O Brasil não parece preocupado, tampouco parece querer alguma aproximação com todo esse desenvolvimento tecnológico.
Paralelamente a esta discussão, as vésperas do encontro do G20, no Rio de Janeiro, o governo ofereceu para a Chinesa SpaceSail o uso de uma base militar no Nordeste. A utilização de satétlites chineses no brasil, para fomentar o uso da internet em regiões mais afastadas, pode ser mais um problema para lidar com o futuro braço direito de Trump.
Esse seria mais um sinal de preocupação para o futuro do Brasil?
Veremos!
Não muito preocupados, um dos sobreviventes ainda da grande mídia, o programa Fantástico, sequer noticiou o vencedor das eleições americanas.
Enquanto isso, Musk conseguiu juntar política, cripto, meme e tudo que mais gosta no emblema do seu novo cargo! Sim, ele terá um cargo no governo onde, basicamente, irá ajudar ao presidente a tornar o governo mais eficiente.
Sabemos da dificuldade de se exercer um cargo público e que os governos não funcionam como as empresas, mas se tem um cara que eu aposto que pode conseguir é ele!
Veremos!
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