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As casas de apostas estão por todo lugar! Qual impacto podemos esperar na economia brasileira e o que já estamos observando nos Estados Unidos! Números e a história das bets no brasil.
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Todos nascemos com um gostinho por apostar. Quando criança, já tirávamos os times no par ou ímpar ou a sorte na adedanha (ou stop, dependendo da sua geografia). Qualquer maluquice proposta por um amiguinho e, rapidamente colocada a prova por outro, vinha acompanhada da pergunta: “Quer apostar?” O prêmio, nesse caso, quase sempre era apenas uma afirmação de “eu sou capaz”. Eventualmente poderia incluir um lanche no recreio, figurinhas, ou algum bem de menor valor. Mas, no fim das contas, já estávamos apostando.
A brincadeira de adulto evoluiu. Apostas de bar, na sinuca ou no truco. Posteriormente, o nascimento do jogo do bicho, a infestação dos bingos e os cruzeiros que muitos viajam apenas para ir em um cassino.
Imagino que todo leitor já tenha feito também uma fezinha na mega e tenha perdido, pelo menos, cinco minutos fazendo a lista de quem iria mandar passear e o que iria comprar no dia seguinte do prêmio que nunca veio.
Alguns desses exemplos eram (e ainda são) ilegais. Outros, feitos por pura diversão e por fim os que arrecadam uma tonelada de dinheiro para os cofres públicos, além de serem amplamente utilizados para lavagem de dinheiro. Todos também já vimos as histórias daqueles sortudos que ganharam vinte vezes na mega!
Mas agora, elas estão em todo lugar. Apostas esportivas. Cassinos online. Jogos do tigrinho. As pirâmides de Bitcoin mal foram demolidas e já temos um novo hábito preferido no Brasil e no mundo.
Em pouco tempo, as bets ganharam seu espaço, nas propagandas na internet, nos orçamentos da família e nos patrocínios dos clubes de futebol. Certamente alguns aqui acompanham o campeonato brasileiro por exemplo, e outros nem tanto, mas considerando os principais times do Brasil, esses eram os patrocínios que estampavam os uniformes há 20 anos atrás:
Corinthians: Pepsi e Samsung
Flamengo: Petrobras
Palmeiras: Parmalat
São Paulo: LG
Vasco da Gama: Habib's
Fluminense: Unimed
Grêmio: Banrisul
Internacional: Banrisul
Cruzeiro: Fiat
Atlético Mineiro: Fiat
Botafogo: Eletrobrás
Hoje o cenário é bem diferente:
Athletico-PR: Esportes da Sorte
Atlético-MG: Betano
Atlético-GO: Blaze
Bahia: Esportes da Sorte
Botafogo: Parimatch
Criciúma: EstrelaBet
Cruzeiro: Betfair
Cuiabá: Drebor
Flamengo: PixBet
Fluminense: Betano
Fortaleza: Novibet
Grêmio: Banrisul
Internacional: Banrisul
Juventude: Stake
Palmeiras: Crefisa
Red Bull Bragantino: MrJack.bet (nas mangas)
São Paulo: Superbet
Santos: PixBet
Vasco: Betfair
Vitória: Betsat
E não precisa procurar no Google, embora o nome da maioria deixe bem claro, quase todos os nomes são casas de apostas!
Temos tido conversas sobre este tema sob diferentes pontos de vista de impactos no país. Algumas coisas são interessantes, umas alarmantes e muitas já são preocupantes. Vamos a elas!
Bets online nos EUA:
Um estudo analisou dados de 7 milhões de adultos americanos, em 38 estados onde as apostas esportivas são legais desde 2018. O objetivo era analisar o impacto desde as pontuações de crédito até as taxas de falência.
"Descobrimos que a saúde financeira geral dos consumidores está se deteriorando modestamente". "A pontuação média de crédito nos estados que legalizaram as apostas esportivas diminuiu cerca de 0,3%."
Embora isso possa parecer pequeno, traduz-se em consequências reais para muitos americanos.
Nos estados que permitem apostas esportivas online, as pontuações de crédito caíram quase 1% - mais de três vezes a queda observada nos estados com opções de apostas apenas presenciais.
Talvez o mais alarmante seja o aumento nos pedidos de falência. Três a quatro anos após as apostas esportivas online se tornarem legais, a probabilidade de falência aumentou impressionantes 25-30%.
Outras descobertas importantes incluem:
Um aumento de 8% nas cobranças de dívidas, traduzindo-se em uma média de $30 a mais por consumidor em cobranças.
Um aumento de 9% nas inadimplências de empréstimos para automóveis em estados com qualquer forma de apostas esportivas legais.
Um aumento de 3,6% na proporção de empréstimos com garantia para sem garantia, indicando padrões de empréstimo mais arriscados.
Uma queda de 1,6% nos limites de cartão de crédito, sugerindo que as instituições financeiras estão apertando suas práticas de empréstimo em resposta ao aumento do risco.
O estudo também descobriu que homens jovens, particularmente aqueles em locais de baixa renda, são os mais vulneráveis a esses efeitos negativos.
Curiosamente, a pesquisa mostrou uma diminuição nas inadimplências de cartão de crédito, que os autores atribuem aos bancos reduzindo proativamente os limites de crédito para mitigar sua exposição ao risco.
Com os americanos apostando quase $300 bilhões em mercados de apostas esportivas legalizadas entre 2018 e 2023, as implicações financeiras de longo prazo dessa mudança cultural ainda estão por ser vistas.
Termômetro para eleições:
Hoje, sites de bet são grandes termômetros de mercado, principalmente para temas voláteis como eleições.
Nos estados unidos, um dos sites mais confiáveis, que possui um modelo de apostas um pouco diferente das tradicionais, já possui mais de 500 milhões de dólares na aposta simples do vencedor das eleições americanas.
Impacto no brasil:
Desde 2019, o Brasil testemunhou um aumento impressionante de 281% no tempo dedicado a jogos online, de acordo com dados da Comscore. Em 2022, o país alcançou a 10ª posição global em termos de receitas brutas de jogos, gerando aproximadamente US$ 1,5 bilhão.
O mercado brasileiro de apostas online conta atualmente com cerca de 42,5 milhões de consumidores, posicionando o país como o terceiro maior em consumo de apostas no mundo. Esse crescimento acelerado atraiu a atenção não apenas de empresas do setor, mas também dos legisladores brasileiros.
Perfil dos Apostadores:
O estudo da SBVC, realizado entre 22 de abril e 3 de maio de 2024, contou com uma amostra de 1.337 respondentes, dos quais 508 eram apostadores ativos. Os dados revelam que:
38% dos participantes já participaram de apostas esportivas online.
O perfil predominante dos apostadores é:
- Homens (58%)
- Faixa etária entre 25 e 44 anos (51%)
- Residentes na região Sudeste (50%)
- Pertencentes às classes B e C (87%)
Quanto à frequência das apostas:
- 13% apostam diariamente
- 38% apostam semanalmente
- 16% apostam mensalmente
- 33% apostam eventualmente ou raramente
49% dos apostadores afirmaram ter aumentado a frequência de suas apostas em 2024 em comparação com o ano anterior.
O futebol continua sendo o carro-chefe das apostas esportivas no Brasil, com 77% dos apostadores concentrando suas atividades nesse esporte. Os jogos de cassino online, especialmente os slots, também ganharam popularidade significativa, atraindo 50% dos apostadores.
Quando se trata de decidir em que apostar, os principais fatores de influência são:
1. Atletas ou times favoritos
2. Análise estatística
3. Palpites de amigos
É interessante notar que apenas 25% dos apostadores mencionaram influenciadores de apostas esportivas como fator decisivo, sugerindo que a maioria dos apostadores confia mais em suas próprias análises ou em opiniões de pessoas próximas.
Plataformas Mais Populares:
O estudo revelou uma clara liderança de algumas plataformas no mercado brasileiro:
Betano
Bet365
Esportes da Sorte
Aspectos Valorizados pelos Apostadores:
Os apostadores brasileiros valorizam principalmente:
Plataformas de fácil utilização com layout e funcionalidades claras
Bônus de boas-vindas
Transparência total sobre as políticas de segurança
Impactos Econômicos e Comportamento de Consumo:
Um dos aspectos mais preocupantes revelados pelo estudo é o impacto das apostas na renda dos brasileiros:
- 64% dos apostadores utilizam sua renda principal para fazer apostas
- 63% afirmam que já tiveram parte de sua renda comprometida com apostas online
Alterações no Padrão de Consumo:
O estudo mostrou que muitos apostadores deixaram de comprar itens essenciais para apostar:
- 23% deixaram de comprar roupas
- 19% reduziram compras em supermercados
- 14% cortaram gastos com produtos de higiene e beleza
- 11% diminuíram gastos com saúde e medicações
Impacto por Faixa Etária:
O estudo revelou uma tendência preocupante: quanto mais jovem o apostador, mais propenso ele está a sacrificar compras essenciais para apostar. Por exemplo:
- 28% dos apostadores entre 18 e 24 anos deixaram de comprar itens necessários para apostar
- Apenas 5% dos apostadores entre 55 e 64 anos fizeram o mesmo
Impacto no Varejo Tradicional:
Dados coletados na pesquisa já mostram uma mudança e impacto nos setores de varejo tradicionais. Dentre os setores mais impactados:
1. Setor de Vestuário: Com 23% dos apostadores deixando de comprar roupas para apostar, o setor de moda e vestuário pode enfrentar uma queda nas vendas.
2. Supermercados: A redução de 19% nas compras de itens de mercado sugere um impacto potencial no setor de alimentos e bens de consumo.
3. Setor de Beleza e Saúde: Com 14% cortando gastos em produtos de higiene e beleza e 11% em saúde e medicações, estes setores também podem sentir os efeitos.
Share of Wallet e Concorrência Indireta:
A medida que ganha espaço no orçamento dos brasileiros, as apostas vão aumentando a concorrência e mudando o padrão de consumo das pessoas. Achar que isso não terá impacto a longo prazo nos parece utópico. O efeito de primeira ordem parece ser no setor de consumo mas, como o exemplo americano, já podemos imaginar que teremos impactos evidentes em linhas de crédito e inadimplência.
Dados de empresas de cartão de crédito já mostram hoje que, PIX realizados para casas de bet já somam quantias estratosféricas. Com isso presente nos extratos bancários, especialmente das classes B e C, teremos certamente um impacto na disponibilidade por crédito dessas pessoas.
Agora, um pouco de história:
Podemos tentar aprender com eventos históricos similares, que podem nos dar um norte do que podemos vivenciar com o boom das bets.
Popularização dos cassinos nos EUA (anos 1930-1960):
- Efeito social: Assim como os cassinos trouxeram preocupações sobre vício em jogos e problemas financeiros familiares, as apostas online podem levar a um aumento nos casos de ludopatia (pessoas viciadas em jogo).
- Efeito econômico: Os cassinos impulsionaram o desenvolvimento de cidades como Las Vegas. De forma similar, as apostas online tem estimulado, além do surgimento de diversas casas de apostas distintas, o crescimento de startups de tecnologia e empresas de análise de dados.
Boom das criptomoedas (2017-2021):
- Efeito social: Assim como as criptomoedas atraíram muitos investidores inexperientes, as apostas online podem levar a uma "gamificação" das finanças pessoais, com pessoas tratando apostas como investimentos. Lembrando que as criptos proporcionaram o último boom de pirâmides que vimos no brasil.
- Efeito no mercado financeiro: Pode haver uma realocação de capital de investimentos tradicionais, como ações, para apostas, potencialmente afetando a liquidez de alguns mercados.
Ascensão do e-commerce (anos 2000):
- Efeito no varejo: Assim como o e-commerce transformou o varejo tradicional, as apostas online podem forçar uma reinvenção dos setores de entretenimento e esportes, com mais foco em experiências interativas e personalizadas.
- Inovação tecnológica: Pode haver um boom no desenvolvimento de tecnologias de análise de dados e inteligência artificial para prever resultados esportivos.
Expansão dos jogos online (anos 2000-2010):
- Mudanças comportamentais: Assim como os jogos online mudaram padrões de socialização, as apostas esportivas podem alterar a forma como as pessoas consomem e interagem com eventos esportivos.
- Regulação e tributação: Governos estão loucos para explorar e ter uma nova fonte significativa de receita, similar ao que ocorreu com a regulamentação dos jogos online em vários países.
Efeitos que já observamos hoje:
Resultados de jogos com suspeita de fraude, por conta das apostas esportivas. Uma ala radical já diz que as apostas podem acabar com o futebol em um país como o nosso.
Mudanças na indústria do esporte: Clubes e ligas podem se tornar mais dependentes de receitas relacionadas a apostas, potencialmente influenciando decisões esportivas. Hoje, as bets já são as grandes patrocinadoras dos times brasileiros
Mudança na percepção de risco: A normalização das apostas está levando a uma mudança na forma como a sociedade vê riscos financeiros em geral.
Para concessão de crédito para classes mais baixas, o volume de PIX realizado pelo cliente para sites de bet já é algo levado em consideração.
No Brasil, as bets já movimentam 1% do PIB por ano. São mais de 150 sites!
A TV tradicional não quer ficar de fora!
Globo, SBT e Band, estão se preparando para lançar suas próprias plataformas de apostas. Essas emissoras têm até dezembro deste ano para apresentar a documentação necessária e obter o registro que lhes permita atuar no setor de apostas.
Com um público diário de mais de 100 milhões de telespectadores no Brasil, a entrada das emissoras neste segmento pode impulsionar ainda mais as bets no brasil.
A Globo planeja utilizar o serviço do Cartola FC como base, oferecendo apostas em futebol. Já o SBT estuda usar uma das empresas de seu portfólio para criar plataformas como "Baú Bet" ou "Tele Sena Bet". A Band está buscando parcerias com casas de apostas já estabelecidas, incluindo algumas que operam internacionalmente.
Certamente iremos voltar várias vezes a este tema. Quem ainda acha que esse mercado é insignificante, precisa rever seus conceitos. Com a dificuldade da regulação de atuar mais próximo as casas de bet, podemos ver ainda um crescimento muito expressivo dessas empresas e, talvez, o impacto na economia ainda esteja só começando.
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